HISTÓRIA ANTIGA
Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da nação.
Mas, por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Miguel Torga
(Poema escolhido por Margarida Nery)
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
terça-feira, 11 de novembro de 2008
O CONVITE
Não me interessa a forma como ganhas a tua vida.
Não me interessa a tua idade.
Desejo saber se, como um louco, ousas ir à procura do amor,
do teu sonho, a aventura de estar vivo.
Não me interessa saber quais são os planetas que tornam a tua lua quadrada.Conta-me se já tocaste o centro da tua tristeza, se te tornaste mais aberto através das desilusões da vida, ou te fechaste com medo de sentir ainda mais dor.
Mostra-me se consegues aguentar a dor, a tua e a minha, sem teres de te esconder, de a expulsar ou de te fixares nela.
Diz-me se consegues estar com a alegria, a minha e a tua, se consegues dançar loucamente, se permites que o êxtase te preencha até à ponta dos teus dedos, sem teres que chamar a atenção para o facto de ser necessário ser realista e lembrares-nos os limites da vida.
Não me interessa se a história que me contas é verdadeira. Diz-me se tens a coragem de desiludir alguém e, assim, seres fiel a ti mesmo. Se aguentas o peso de ser considerado um traidor porque não aceitas atraiçoar a tua própria alma: aguentas ser coerente e, por isso mesmo, és digno de confiança.
Diz-me se consegues ver a beleza, mesmo quando ela não é visível, se, em cada dia, ela te torna capaz de seres fonte de vida.
Quero saber se consegues viver com os fracassos, com os teus e os meus, e, no entanto, és capaz de te sentares à beira do lago e gritares à lua: “SIM!”
Não me interessa onde moras e quanto dinheiro ganhas. Diz-me se consegues levantares-te depois de uma noite de desespero e rancor, cansado e ferido até aos ossos, e fazes tudo o que é necessário para as crianças terem o suficiente para comer.
Não me interessa saber quem conheces e como chegaste aqui. Diz-me se aguentas estar comigo no centro do fogo sem fugir.
Não quero saber onde, o que e com quem estudaste.
Quero saber o que te alimenta interiormente quando tudo no exterior ruiu.
Quero saber se consegues suportar a solidão, e se és fiel a ti mesmo nos momentos de vazio.
Diz-me aquilo que desejas, se tens a audácia de sonhar,e de ires ao encontro do teu coração.
Oriah Moutain Dreamer
(Poema escolhido por Eva Santos)
sábado, 11 de outubro de 2008
Porque tu és meu Pai...
Pai, ponho-me nas tuas mãos.
Faz de mim o que quiseres.
Venha o que vier, dou-te graças.
Estou disposto a tudo.
Aceito tudo,
com a certeza de que a tua vontade
se cumpre na minha
e em todas as criaturas.
Não desejo nada mais.
Encomendo-te o meu coração,
entrego-te
com todo o amor de que sou capaz.
porque te amo e preciso de dar-me
por-me nas tuas mãos sem medida,
com infinita confiança
porque tu és meu Pai.
Charles de Foucauld
Pai, ponho-me nas tuas mãos.
Faz de mim o que quiseres.
Venha o que vier, dou-te graças.
Estou disposto a tudo.
Aceito tudo,
com a certeza de que a tua vontade
se cumpre na minha
e em todas as criaturas.
Não desejo nada mais.
Encomendo-te o meu coração,
entrego-te
com todo o amor de que sou capaz.
porque te amo e preciso de dar-me
por-me nas tuas mãos sem medida,
com infinita confiança
porque tu és meu Pai.
Charles de Foucauld
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
O Universo é um poema magistral escrito por Deus
O Universo é um poema magistral escrito por Deus,
É uma carta por ele enviada, na qual um verso se destaca.
É uma história contada com letras poderosas!
É um livro que nunca acaba.
Lêem-se as palavras, percebe-se o sentido!
E a mensagem é clara:
"Eu estou aqui."
João Pires
O Universo é um poema magistral escrito por Deus,
É uma carta por ele enviada, na qual um verso se destaca.
É uma história contada com letras poderosas!
É um livro que nunca acaba.
Lêem-se as palavras, percebe-se o sentido!
E a mensagem é clara:
"Eu estou aqui."
João Pires
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
A direcção do sangue
Quando se viaja sozinho
pelas imagens que perduram
as evocações ganham um modo tão real
A mancha ténue dos arbustos
indica o caminho para o regresso
que nunca há
o mar ficou de repente perto
sobre esta praia travámos lutas
para as quais só muito depois
encontramos um motivo
era à pedrada que nos defendíamos
do riso mais inocente
ou de um amor
Mas aquilo que nunca esquecemos
deixa de pertencer-nos e nem notamos
Estamos sós com a noite
para salvar um coração
José Tolentino de Mendonça
Quando se viaja sozinho
pelas imagens que perduram
as evocações ganham um modo tão real
A mancha ténue dos arbustos
indica o caminho para o regresso
que nunca há
o mar ficou de repente perto
sobre esta praia travámos lutas
para as quais só muito depois
encontramos um motivo
era à pedrada que nos defendíamos
do riso mais inocente
ou de um amor
Mas aquilo que nunca esquecemos
deixa de pertencer-nos e nem notamos
Estamos sós com a noite
para salvar um coração
José Tolentino de Mendonça
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Não se perdeu
Não se perdeu nenhuma coisa em mim.
Continuam as noites e os poentes
Que escorreram na casa e no jardim,
Continuam as vozes diferentes
Que intactas no meu ser estão suspensas.
Trago o terror e trago a claridade,
E através de todas as presenças
Caminho para a única unidade.
Sophia de Mello Breyner
Não se perdeu nenhuma coisa em mim.
Continuam as noites e os poentes
Que escorreram na casa e no jardim,
Continuam as vozes diferentes
Que intactas no meu ser estão suspensas.
Trago o terror e trago a claridade,
E através de todas as presenças
Caminho para a única unidade.
Sophia de Mello Breyner
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.
Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.
Há muitas coisas que eu quero ver.
Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o teu reino antes do tempo venha.
E se derrame sobre a Terra
Em primavera feroz pricipitado.
Sophia de Mello Breyner
Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.
Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.
Há muitas coisas que eu quero ver.
Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o teu reino antes do tempo venha.
E se derrame sobre a Terra
Em primavera feroz pricipitado.
Sophia de Mello Breyner
domingo, 11 de maio de 2008
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Sossega, coração! Não desesperes!
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
Fernando Pessoa
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
Fernando Pessoa
terça-feira, 11 de março de 2008
RECOMEÇAR
Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
Miguel Torga
Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
Miguel Torga
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Pequeno Poema
Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...
Sebastião da Gama
Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...
Sebastião da Gama
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