tag:blogger.com,1999:blog-4741012199310153322024-03-13T16:30:10.820+00:00Sou Fã...Ana Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.comBlogger49125tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-38063233332274194372011-11-11T11:22:00.002+00:002011-11-11T11:23:09.732+00:00<span style="font-weight:bold;">TENHO TANTAS SAUDADES</span><br /><br />Tenho tantas saudades<br />Como folhas tem o trigo,<br />Não as conto a ninguém,<br />Todas consumo comigo.<br /><br />Tenho tantas saudades<br />Como areias tem o mar,<br />Tantas, tantas, noite e dia,<br />Que não as posso contar.<br /><br />Francisco de LacerdaAna Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-1004650746567628052011-10-11T09:53:00.001+01:002011-10-12T09:55:27.125+01:00<span style="font-weight:bold;">NA MÃO DE DEUS</span><br /><br />Na mão de Deus, na sua mão direita, <br />Descansou afinal meu coração. <br />Do palácio encantado da Ilusão <br />Desci a passo e passo a escada estreita. <br /><br />Como as flores mortais, com que se enfeita <br />A ignorância infantil, despojo vão, <br />Depois do Ideal e da Paixão <br />A forma transitória e imperfeita. <br /><br />Como criança, em lôbrega jornada, <br />Que a mãe leva ao colo agasalhada <br />E atravessa, sorrindo vagamente, <br /><br />Selvas, mares, areias do deserto... <br />Dorme o teu sono, coração liberto, <br />Dorme na mão de Deus eternamente! <br /><br />Antero de QuentalAna Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-36440571717988298362011-09-11T10:09:00.001+01:002011-10-12T10:10:40.388+01:00<span style="font-weight:bold;">PENSAR EM DEUS É DESOBEDECER A DEUS</span><br /><br />Pensar em Deus é desobedecer a Deus, <br />Porque Deus quis que o não conhecêssemos, <br />Por isso se nos não mostrou... <br />Sejamos simples e calmos, <br />Como os regatos e as árvores, <br />E Deus amar-nos-á fazendo de nós <br />Belos como as árvores e os regatos, <br />E dar-nos-á verdor na sua primavera, <br />E um rio aonde ir ter quando acabemos! ... <br /><br />Alberto CaeiroAna Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-91632017545770709152011-08-11T11:29:00.000+01:002011-08-27T14:31:17.030+01:00<span style="font-weight:bold;">NO CORAÇÃO, TALVEZ</span>
<br />
<br />No coração, talvez, ou diga antes:
<br />Uma ferida rasgada de navalha,
<br />Por onde vai a vida, tão mal gasta.
<br />Na total consciência nos retalha.
<br />O desejar, o querer, o não bastar,
<br />Enganada procura da razão
<br />Que o acaso de sermos justifique,
<br />Eis o que dói, talvez no coração.
<br />
<br />José SaramagoAna Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-61888561398826110692011-07-11T14:50:00.000+01:002011-07-14T14:51:54.008+01:00<strong>EIXOS</strong><br /><br />Ver é estoutra aflição, expiada<br />Na dor de ser visto: o dito,<br />O visto, contidos na recusa<br />De falar, e de uma só voz a semente,<br />Sepultada no acaso de uma pedra.<br />Nunca as minhas mentiras me pertenceram.<br /><br />Paul AusterAna Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-76350577610192841122011-06-11T09:00:00.000+01:002011-06-11T09:00:03.093+01:00<span style="font-weight:bold;">RIO</span><br /><br />As águas vêm de longe,<br />trazem o mundo,<br />os montes a terra as pedras<br />os bichos e o pólen<br />as folhas e a luz<br />a chuva o granizo<br />e a sede dos homens<br />o rumor das noites e dos dias.<br />Rio vivo, quase mudo,<br />cheio de água<br />cheio de terra<br />cheio de tudo.<br /><br />João Pedro MessederAna Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-87052504480001945912011-05-11T08:22:00.000+01:002011-05-11T08:22:53.584+01:00<span style="font-weight:bold;">DO DESEJO</span><br /><br />não se extinga o desejo que nos faz viver,<br />Deus do nosso desejo<br /><br />alimenta em nós o fogo das paixões<br />que nos leva a agir<br />e o fogo da palavra que por dentro queime<br />e faça escuta<br /><br />tu que és o guardião do nosso desejo,<br />aviva a chaga que o nosso imaginário<br />constantemente quer sem falha;<br />que vivamos o nosso desejo sem culpabilidade<br /><br />circuncide-nos o coração a espada do amor,<br />pregão antigo e novo<br />em nosso corpo adormecido e acordado<br /><br />Fei José Augusto MourãoAna Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-78259423018589944002011-04-11T19:42:00.002+01:002011-04-30T19:54:35.375+01:00<span style="font-weight:bold;">A TUA AUSÊNCIA</span><br /><br />A tua ausência<br />a encher-se de dunas.<br /><br />Aquele bater de vidraças<br />na orla da praia<br /><br />O silêncio a insistir<br />a recusar-se o rumor<br /><br />E a vida a fluir,<br />lá fora.<br /><br />Eduardo PittaAna Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-35824375854997956532011-03-11T09:00:00.000+00:002011-03-11T09:00:03.843+00:00<span style="font-weight:bold;">DIANTE DO MAR</span><br /><br />Perante linhas que se despenham<br />numa desarticulação cadenciada<br />um pensamento, mesmo o mais trivial<br />coloca-nos no centro de uma tempestade<br />Um reino subterrâneo<br />avança a intervalos pela casa fora<br />emerge muito lentamente<br />o declive<br />que para sempre nos separa<br /><br />Imagina que tudo isto ocorre antes do próximo Inverno<br />E mesmo ao escurecer estás diante do mar<br />O mar como nunca antes o viste<br /><br />José Tolentino MendonçaAna Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-58548019108938903542011-02-11T09:00:00.002+00:002011-02-11T10:29:10.203+00:00<strong>SE</strong><br /><br />Se podes conservar o teu bom senso e a calma<br />No mundo a delirar para quem o louco és tu…<br />Se podes crer em ti com toda a força de alma<br />Quando ninguém te crê…Se vais faminto e nu,<br /><br />Trilhando sem revolta um rumo solitário…<br />Se à torva intolerância, à negra incompreensão,<br />Tu podes responder subindo o teu calvário<br />Com lágrimas de amor e bênçãos de perdão…<br /><br />Se podes dizer bem de quem te calunia…<br />Se dás ternura em troca aos que te dão rancor<br />(Mas sem a afectação de um santo que oficia<br />Nem pretensões de sábio a dar lições de amor)…<br /><br />Se podes esperar sem fatigar a esperança…<br />Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho…<br />Fazer do pensamento um arco de aliança,<br />Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho…<br /><br />Se podes encarar com indiferença igual<br />O triunfo e a derrota, eternos impostores…<br />Se podes ver o bem oculto em todo o mal<br />E resignar sorrindo o amor dos teus amores…<br /><br />Se podes resistir à raiva e à vergonha<br />De ver envenenar as frases que disseste<br />E que um velhaco emprega eivadas de peçonha<br />Com falsas intenções que tu jamais lhes deste…<br /><br />Se podes ver por terra as obras que fizeste,<br />Vaiadas por malsins, desorientando o povo,<br />E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,<br />Voltares ao princípio a construir de novo…<br /><br />Se puderes obrigar o coração e os músculos<br />A renovar um esforço há muito vacilante,<br />Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,<br />Só exista a vontade a comandar avante…<br /><br />Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre…<br />Se vivendo entre os reis, conservas a humildade…<br />Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre<br />São iguais para ti à luz da eternidade…<br /><br />Se quem conta contigo encontra mais que a conta…<br />Se podes empregar os sessenta segundos<br />Do minuto que passa em obra de tal monta<br />Que o minute se espraie em séculos fecundos…<br /><br />Então, ó ser sublime, o mundo inteiro é teu!<br />Já dominaste os reis, os tempos, os espaços!…<br />Mas, ainda para além, um novo sol rompeu,<br />Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.<br /><br />Pairando numa esfera acima deste plano,<br />Sem receares jamais que os erros te retomem,<br />Quando já nada houver em ti que seja humano,<br />Alegra-te, meu filho, então serás um homem!<br /><br />Rudyard Kipling<br />(tradução de Félix Bermudes)Ana Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-31128349065576044452011-01-11T10:00:00.000+00:002011-01-15T10:03:42.190+00:00<span style="font-weight:bold;">ESTAR AQUI...</span><br /><br />Estar aqui é como não estar aqui.<br />No escuro onde as minhas lentas mãos modelam<br />a pele deste ser vivo,<br />o universo,<br />é da fina camada que cobriu <br />o seu vasto percurso<br />no largo da pastagem,<br />é no táctil roçar da sua vida<br />que uma luz, é esta!, me transporta<br /><br />Pedro TamenAna Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-9469007338309483472010-12-11T09:00:00.000+00:002010-12-11T09:00:05.344+00:00<strong>LUZ</strong><br /><br />Luz do fogo<br />Aquece meu corpo<br />Com a Força do teu calor<br />Para o manter activo<br />No trabalho, na saúde e no rigor.<br /><br />Luz<br />Luz da vela<br />Aquece e ilumina minha alma<br />Com a Beleza da tua chama<br />Para quebrar a ira e o apego que me trama<br />E fazer raiar a alegria, o amor e a calma.<br /><br />Luz<br />Luz da Estrela<br />Ilumina o meu mental<br />Com a Sabedoria da tua Graça<br />Para abolir as fronteiras que o ego meticulosamente traça<br />E resplandecer a Faúlha do Uno que tudo abraça.<br /><br />Jorge MoreiraAna Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-64451102668535573232010-11-11T09:00:00.001+00:002010-11-11T09:00:07.774+00:00<strong>TODO O HOMEM QUE PENSA</strong><br /><br />“Todo o homem que pensa<br />encontrará um dia a verdade –<br />pode partir de onde quiser<br />e ir por onde quiser.”<br /> <br />“Estamos sós<br />Com tudo o que amamos”.<br /> <br />“A ciência é apenas uma metade.<br />A outra é a fé.”<br /> <br />“Todas as barreiras só existem <br />para serem ultrapassadas<br />- e assim por diante.”<br /><br />NovalisAna Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-59925556290130206132010-10-11T09:00:00.000+01:002010-10-11T09:00:07.056+01:00<strong>SER POETA</strong><br /><br />Ser poeta é ser mais alto, é ser maior<br />Do que os homens! Morder como quem beija!<br />É ser mendigo e dar como quem seja<br />Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!<br /><br /><br />É ter de mil desejos o esplendor<br />E não saber sequer que se deseja!<br />É ter cá dentro um astro que flameja,<br />É ter garras e asas de condor!<br /><br /><br />É ter fome, é ter sede de Infinito!<br />Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...<br />É condensar o mundo num só grito!<br /><br /><br />E é amar-te, assim, perdidamente...<br />É seres alma, e sangue, e vida em mim<br />E dizê-lo cantando a toda a gente!<br /><br />Florbela Espanca<br /><br /><strong>(Poema escolhido por Isabel Tavares)</strong>Ana Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-1689941454529411142010-09-11T09:00:00.000+01:002010-09-11T09:00:00.905+01:00<strong>MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES</strong><br /><br />Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,<br />Muda-se o ser, muda-se a confiança;<br />Todo o mundo é composto de mudança,<br />Tomando sempre novas qualidades.<br /><br />Continuamente vemos novidades,<br />Diferentes em tudo da esperança;<br />Do mal ficam as mágoas na lembrança,<br />E do bem, se algum houve, as saudades.<br /><br />O tempo cobre o chão de verde manto,<br />Que já coberto foi de neve fria,<br />E em mim converte em choro o doce canto.<br /><br />E, afora este mudar-se cada dia,<br />Outra mudança faz de mor espanto:<br />Que não se muda já como soía.<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong>Ana Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-80751059644449887102010-08-11T09:00:00.000+01:002010-08-11T09:00:02.334+01:00<span style="font-weight:bold;">CÂNTICO DA ESPERANÇA</span><br /> <br />Não peça eu nunca<br />para me ver livre de perigos,<br />mas coragem para afrontá-los.<br /> <br />Não queira eu<br />que se apaguem as minhas dores,<br />mas que saiba dominá-las<br />no meu coração.<br /> <br />Não procure eu amigos<br />no campo da batalha da vida,<br />mas ter forças dentro de mim.<br /> <br />Não deseje eu ansiosamente<br />ser salvo,<br />mas ter esperança<br />para conquistar pacientemente<br />a minha liberdade.<br /> <br />Não seja eu tão cobarde, Senhor,<br />que deseje a tua misericórdia<br />no meu triunfo,<br />mas apertar a tua mão<br />no meu fracasso!<br /><br />Rabindranath Tagore<br /><br /><span style="font-weight:bold;">(Poema escolhido por Carla Cazeiro)</span>Ana Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-54833800703793248352010-07-11T10:00:00.001+01:002010-07-11T10:00:04.071+01:00<strong>NÃO PROCURES DEUS FORA DE TI</strong><br /><br />Não procures Deus fora de ti<br />no seu espaço infinito<br />Não tentes ascender ao céu<br />no esforço de saíres de ti<br />na tua condição<br />Não queiras ser mais do que o abandono<br />de um abandonado<br />Não cedas à tua vontade<br />de querer de poder de ser ou de não ser<br />não aceites nada que não seja o nada<br />deixa-te cair até ao fundo<br />como se no íntimo de ti<br />como se<br />no silêncio do silêncio<br />sem nome<br />o que tu nunca saberás<br />respirasse<br />o futuro amor sempre inconcluído.<br /><br /><strong>António Ramos Rosa</strong>Ana Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-64388556181172658802010-06-11T10:30:00.000+01:002010-06-11T10:30:00.730+01:00<strong>NÃO, NÃO É CANSAÇO </strong><br /><br />Não, não é cansaço... <br />É uma quantidade de desilusão <br />Que se me entranha na espécie de pensar, <br />E um domingo às avessas <br />Do sentimento, <br />Um feriado passado no abismo... <br /><br />Não, cansaço não é... <br />É eu estar existindo <br />E também o mundo, <br />Com tudo aquilo que contém, <br />Como tudo aquilo que nele se desdobra <br />E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais. <br /><br />Não. Cansaço por quê? <br />É uma sensação abstrata <br />Da vida concreta — <br />Qualquer coisa como um grito <br />Por dar, <br />Qualquer coisa como uma angústia <br />Por sofrer, <br />Ou por sofrer completamente, <br />Ou por sofrer como... <br />Sim, ou por sofrer como... <br />Isso mesmo, como... <br /><br />Como quê?... <br />Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço. <br /><br />(Ai, cegos que cantam na rua, <br />Que formidável realejo <br />Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!) <br /><br />Porque oiço, vejo. <br />Confesso: é cansaço!... <br /><br />Álvaro de Campos<br /><br /><strong>(Poema escolhido por Diana Dias)</strong>Ana Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-71942991717284906432010-05-11T09:00:00.000+01:002010-05-11T09:00:02.973+01:00<strong>AS MÃOS</strong><br /><br />Com mãos se faz a paz se faz a guerra.<br />Com mãos tudo se faz e se desfaz.<br />Com mãos se faz o poema – e são de terra.<br />Com mãos se faz a guerra – e são a paz.<br /><br />Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.<br />Não são de pedras estas casas mas<br />de mãos. E estão no fruto e na palavra<br />as mãos que são o canto e são as armas.<br /><br />E cravam-se no Tempo como farpas<br />as mãos que vês nas coisas transformadas.<br />Folhas que vão no vento: verdes harpas.<br /><br />De mãos é cada flor cada cidade.<br />Ninguém pode vencer estas espadas:<br />nas tuas mãos começa a liberdade.<br /><br /><strong>Manuel Alegre</strong>Ana Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-62865139561775216312010-04-11T09:00:00.002+01:002010-04-13T10:50:48.165+01:00<strong>PRECE</strong><br /><br />Dirijo-me a vós, meu Deus,<br />Porque só vós dais<br />O que não se obtém senão de vós<br /> <br />Dai-me, meu Deus, o que vos resta<br />Dai-me o que os outros não vos pedem<br />Eu não vos peço riqueza<br />Nem o sucesso, nem mesmo a saúde<br />Tudo isso, meu Deus, vos pedem abundantemente<br />Que vós não deveis ter mais para dispor<br /> <br />Dai-me, meu Deus, o que vos resta<br />Dai-me o que outros recusam<br />Eu quero a insegurança e a inquietude<br />Eu quero a tormenta e a batalha<br />E que vós me as deis, meu Deus<br />Definitivamente<br />Que eu tenha a certeza de as ter sempre<br />Porque não ouso ter sempre a coragem<br />De vo-las pedir.<br /> <br />Dai-me, meu Deus, o que vos resta<br />Dai-me o que os outros não querem<br />Mas dai-me também a coragem<br />E a força, e a fé<br />Porque só vós dais<br />O que não se obtém senão de vós.<br /><br />Autor Desconhecido<br /><br /><strong>(Poema escolhido e traduzido por Fernando Manuel Ramos) </strong>Ana Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-23606403237312346612010-03-11T09:00:00.001+00:002010-03-11T09:00:07.108+00:00<strong>CÂNTICO NEGRO</strong><br /><br />"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces<br />Estendendo-me os braços, e seguros<br />De que seria bom que eu os ouvisse<br />Quando me dizem: "vem por aqui!"<br />Eu olho-os com olhos lassos,<br />(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)<br />E cruzo os braços,<br />E nunca vou por ali...<br />A minha glória é esta:<br />Criar desumanidades!<br />Não acompanhar ninguém.<br />— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade<br />Com que rasguei o ventre à minha mãe<br />Não, não vou por aí! Só vou por onde<br />Me levam meus próprios passos...<br />Se ao que busco saber nenhum de vós responde<br />Por que me repetis: "vem por aqui!"?<br /><br /><br />Prefiro escorregar nos becos lamacentos,<br />Redemoinhar aos ventos,<br />Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,<br />A ir por aí...<br />Se vim ao mundo, foi<br />Só para desflorar florestas virgens,<br />E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!<br />O mais que faço não vale nada.<br /><br /><br />Como, pois, sereis vós<br />Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem<br />Para eu derrubar os meus obstáculos?...<br />Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,<br />E vós amais o que é fácil!<br />Eu amo o Longe e a Miragem,<br />Amo os abismos, as torrentes, os desertos...<br /><br /><br />Ide! Tendes estradas,<br />Tendes jardins, tendes canteiros,<br />Tendes pátria, tendes tetos,<br />E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...<br />Eu tenho a minha Loucura !<br />Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,<br />E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...<br />Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!<br />Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;<br />Mas eu, que nunca principio nem acabo,<br />Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.<br /><br /><br />Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,<br />Ninguém me peça definições!<br />Ninguém me diga: "vem por aqui"!<br />A minha vida é um vendaval que se soltou,<br />É uma onda que se alevantou,<br />É um átomo a mais que se animou...<br />Não sei por onde vou,<br />Não sei para onde vou<br />Sei que não vou por aí!<br /><br /><strong>José Régio</strong>Ana Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-11342256621240275532010-02-11T12:36:00.000+00:002010-02-11T12:36:05.823+00:00<span style="font-weight:bold;">DEVE SER O ÚLTIMO TEMPO</span><br /><br />Deve ser o último tempo<br />A chuva definitiva sobre o último animal nos pastos<br />O cadáver onde a aranha decide o círculo.<br />Deve ser o último degrau na escada de Jacob<br />E último sonho nele<br />Deve ser-lhe a última dor no quadril.<br />Deve ser o mendigo à minha porta<br />E a casa posta à venda.<br />Devo ser o chão que me recebe<br />E a árvore que me planta.<br />Em silêncio e devagar no escuro<br />Deve ser a véspera. Devo ser o sal<br />Voltado para trás.<br />Ou a pergunta na hora de partir. <br /><br />Daniel Faria<br /><br /><span style="font-weight:bold;">(Poema escolhido por Mafalda Cabrita Neto)</span>Ana Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-83180618773885030102010-01-11T21:19:00.003+00:002010-01-12T09:28:52.675+00:00<strong>O QUE TE PEÇO, SENHOR...</strong><br /><br />O que te peço, Senhor, é a graça de ser.<br />Não te peço mapas, peço-te caminhos.<br />O gosto dos caminhos recomeçados,<br />com suas surpresas, suas mudanças, sua beleza.<br />Não te peço coisas para segurar,<br />mas que as minhas mãos vazias<br />se entusiasmem na construção da vida.<br />Não te peço que pares o tempo na minha imagem predilecta,<br />mas que ensines meus olhos a encarar cada tempo<br />como uma nova oportunidade.<br />Afasta de mim as palavras,<br />que servem apenas para evocar cansaços, desânimos, distâncias.<br />Que eu não pense saber já tudo acerca mim e dos outros.<br />Mesmo quando eu não posso ou quando não tenho,<br />sei que posso ser, ser simplesmente.<br />É isso que te peço, Senhor:<br />a graça de ser de novo.<br /><br /><strong>José Tolentino Mendonça</strong>Ana Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-40644760292656782822009-12-11T08:32:00.000+00:002009-12-11T08:32:51.850+00:00<span style="font-weight:bold;">NATAL, E NÃO DEZEMBRO</span><br /><br />Entremos, apressados, friorentos,<br />numa gruta, no bojo de um navio,<br />num presépio, num prédio, num presídio,<br />no prédio que amanhã for demolido…<br />Entremos, inseguros, mas entremos.<br />Entremos, e depressa, em qualquer sítio,<br />porque esta noite chama-se Dezembro,<br />porque sofremos, porque temos frio.<br /><br />Entremos, dois a dois: somos duzentos,<br />duzentos mil, doze milhões de nada.<br />Procuremos o rastro de uma casa,<br />a cave, a gruta, o sulco de uma nave…<br />Entremos, despojados, mas entremos.<br />De mãos dadas talvez o fogo nasça,<br />talvez seja Natal e não Dezembro,<br />Talvez universal a consoada.<br /><br />David Mourão Ferreira<br /><br /><span style="font-weight:bold;">(Poema escolhido por Biacha)</span>Ana Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-474101219931015332.post-18196879294711369972009-11-11T17:30:00.002+00:002009-11-15T17:36:36.950+00:00<span style="font-weight:bold;">TU E EU</span><br /><br />Tu enches os meus pensamentos<br />Dia após dia;<br />Saúdo-te na solidão<br />Fora do mundo;<br />Tu tomaste posse<br />Da minha vida e da minha morte.<br /><br />Como o sol ao nascer<br />A minha alma contempla-te<br />Com um único olhar.<br />És como o alto céu,<br />Eu sou como o mar infinito<br />Com a lua cheia no meio;<br />Estás sempre em paz,<br />Eu estou sempre inquieto,<br />Embora no horizonte distante<br />Nos encontremos sempre.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">Rabindranath Tagore</span>Ana Cruzhttp://www.blogger.com/profile/18227565982280768639noreply@blogger.com0